A história do Município de Quartel Geral, remonta desde o final do século XVIII com o avanço de alguns habitantes do litoral brasileiro em direção ao interior do continente sob o farol das bandeiras, motivados em explorar as riquezas naturais. Destarte, famílias inteiras marcharam neste caminho travando contato direto com selvagens, onde cada um lutava pela posse da vida e da terra, na vasta região a oeste do Alto rio São Francisco.
Em 1749 já ocorria a extração de diamantes no rio Indaiá e seus afluentes; mas somente no ano de 1782 Dom Rodrigo José de Meneses recebeu denúncias do garimpo clandestino e informou aos administradores da Real Extração Diamantina do Tijuco de Minas Gerais, sobre a existência de diamantes na região.A partir desse marco o governador de Minas enviou tropas de Vila Rica para a construção de vários quartéis, com a finalidade de estabelecer ali uma extração oficial de diamantes, e fiscalização nos garimpos para impedir o contrabando de diamantes e ouro. Estes trabalhos iniciaram no ano de 1791, com 200 trabalhadores, sendo chefiados pelo administrador Antônio José Alves Pereira.
Iniciados os trabalhos da Extração Régia de diamantes, esta região passa a ser um enclave fortificado, sendo proibida a livre circulação na denominada Nova Lorena Diamantina.Ela tinha como fronteira a Leste a margem esquerda do rio São Francisco, ao Norte a região de Paracatu, a Oeste a Serra da Saudade e ao Sul Bambuí, a área que não fazia parte da Nova Lorena Diamantina era chamada de Campo Grande. Portanto, a Nova Lorena Diamantina era guarnecida por 17 quartéis, eram eles: Quartel Geral do Indaiá, situado no Alto ribeirão Pari; Quartel de São João instalado entre as nascentes dos córregos Marimbondo e ribeirão da Marmelada, hoje atual Distrito de Quartel Geral; Quartel de Santa Anna edificado nas cercanias de Cedro do Abaeté; Quartel do Assunção no Baixo córrego Tiros, próximo à margem direita do rio Abaeté; Quartel das Três Barras no Alto rio Abaeté; Quartel dos Aragões; Quartel da Cachoeira Mansa; Quartel de Olhos D’água; Quartel de Nazaré; Quartel de São Luiz; Quartel de Santa Isabel às margens do Médio rio de mesmo nome; Quartel de Santo Antônio; Quartel do rio da Prata; Quartel dos Ferreiros na nascente do rio Abaeté; Quartel da Cachoeirinha na nascente do Rio Indaiá; Quartel de Bambuí, ao sul do Quartel da Cachoeirinha no médio rio Bambuí e Quartel de Santa Teresa.
Dentre estes vários quartéis construídos em pontos estratégicos na região de Nova Lorena, encontrava-se então junto ao ribeirão Pari, o Quartel Geral do Indaiá, existindo como quartel de tropas coloniais com jurisdição sobre dois presídios e quatro quartéis: os presídios de Santana e das Palmeiras, o Quartel de São João, Quartel dos Ferreiros, Quartel dos Aragões e Quartel da Cachoeira Mansa. Neste lugar havia a contabilização dos diamantes garimpados, os quais eram guardados em caixas fortes, denominadas caixa dos diamantes, posteriormente despachados para a cidade de Vila Rica; era Quartel Geral um caminho oficial da coroa de circulação dos diamantes, pessoas e mercadorias.
Além dos caminhos oficiais declarados pela Coroa havia também os caminhos clandestinos, os quais eram usados pelos contrabandistas, aventureiros, índios e escravos fugitivos habitantes dos vários quilombos existentes em pontos estratégicos dentro da região diamantífera; sendo eles destruídos posteriormente de forma covarde pelo Mestre de Campo Ignácio Correia Pamplona. Havia então nesta região grande insegurança por parte dos viajantes ao trafegarem estes caminhos, os ataques eram constantes por parte dos malfeitores que ali circulavam, com o intuito da busca de suprimento e dinheiro.
A difícil fiscalização da região, a inexperiência da garimpagem em rios de maior fluxo, trabalhadores distantes de seus lares, escravos indolentes, velhos e doentes, contrabando, presença de quilombolas e índios, e outros motivos mais, levara à extinção da extração Real nos rios diamantíferos no dia 13 de outubro de 1808.
Outro marco importante na história de Quartel Geral foi a instalação de uma fazenda localizada na nascente do ribeirão Pari, situada distante da fortificação e fiscalização da Unidade Militar. Lugar perfeito para cultivar plantações, criar gado e família. Este serviu como abrigo para duas pessoas refugiadas de Vila Rica, estas pessoas participaram de forma direta e intensa da história mineira; trata-se de Eugênia Joaquina da Silva e de seu filho João Almeida Beltrão, fruto de um relacionamento amoroso com Joaquim José da Silva Xavier–Tiradentes.
Após a morte por enforcamento do Inconfidente, Eugênia refugiou-se nesta fazenda para proteger a descendência do Mártir Inconfidente; sua coragem abnegada preservou em segredo a verdadeira paternidade de seu filho; em virtude da sentença condenatória a Tiradentes e seus descendentes. Mais tarde seguindo a mesma carreira que seu pai exercera, João de Almeida Beltrão entrou para a Milícia passou a compor as tropas de Quartel Geral do Indaiá, posteriormente casou-se com a filha de um fazendeiro da região, tornando-se latifundiário, vindo anos depois a falecer por envenenamento durante um jantar.
A passagem de Eugênia pelo Município está registrada no nome de uma das principais avenidas da cidade, a qual inicia-se em um dos pontos turísticos (lagoa), atravessando o centro da cidade, ladeando a Escola Estadual, a Matriz Divino Espírito Santo, Prefeitura Municipal. Um outro registro foi a doação de sua fazenda para o Divino Espírito Santo, padroeiro do Município, o que favorece até os dias atuais à comunidade quartelense, pois, recebem gratuitamente o terreno para edificarem suas casas.
O então Distrito foi criado com a denominação de Espírito Santo do Quartel Geral do Indaiá pela Lei nº 3.798, de 16 de agosto de 1889, e a Lei nº 843, de 7 de setembro de 1923, reduziu a denominação para o nome de Quartel Geral. A lei de nº 1.039, de 12 de dezembro de 1953, criou o Município de Quartel Geral com território desmembrado do Município de Dores do indaiá-MG. Ainda hoje o Município abrange grande parte do que era a “região proibida”, sua área compreende desde a margem esquerda do rio São Francisco até à margem direita do rio Indaiá.
Quartel Geral é também guardião da história mineira, seja pela exploração de diamantes, seja pela guarida ao filho do patrono cívico da Nação brasileira e das Polícias Militares Estaduais, pela possibilidade de ter sido enterrada a cabeça de Tiradentes em seu solo, uma operação executada pela Loja Maçônica Libertas Quae Sera Tamen e Eugênia Joaquina da Silva, no ano de 1793.
Publicado em 01/08 no livro Centro-Oeste Mineiro, História e cultura.
Autor: Valter Magalhães Pinto